quarta-feira, 2 de maio de 2012

ENTREVISTA COM MICHELE PACHECO E ROBSON ROCHA


Acesso - Como foi a trajetória de vocês como jornalistas?
Michele - Eu me formei na Universidade Federal de Juiz de Fora em janeiro de 1996. Trabalhei um ano com assessoria de imprensa. Depois, cobri férias na TV Alterosa em julho/agosto de 97. Fui contratada em outubro do mesmo ano e permaneço na empresa até hoje.
Robson - Comecei em outubro de 1988 como estagiário do departamento de engenharia da TV Globo. Fui contratado como câmera de estúdio, depois cinegrafista do depto. de engenharia, comercial e programação. Em 1995, passei para o depto. de jornalismo. Em julho de 1996, fui contratado pela TV Alterosa.

Acesso - Como é o trabalho de cinegrafia no jornalismo investigativo?
Michele e Robson - Tem que ser discreto, xereta, curioso e atento. As gravações são feitas em carros descaracterizados, escondido em obras, no meio do mato...
Muitas vezes, utilizando equipamentos menores ou microcâmeras. Criando condições para os envolvidos não serem reconhecidos. Ajudando no levantamento de informações, negociando com fontes...

Acesso - O que vocês acham do uso de câmeras escondidas na produção de matérias? Vocês          já fizeram uso dessa prática?
Michele e Robson - Em alguns casos, a câmera escondida facilita o registro da denúncia e a cobrança de providências. A TV Alterosa já utilizou esse recurso sim e com bom resultado. Hoje, com os celulares de boa qualidade, qualquer pessoa pode ter a sua "Câmera escondida". Esse tipo de recurso é mais utilizado hoje no telejornalismo, incentivando uma participação do telespectador no jornal. Mas, em casos mais complicados, que envolvam polícia e política, a câmera escondida é mais segura.

Acesso – Vocês já se envolveram em problemas maiores como ameaças ou coisas do gênero em algum trabalho investigativo?
Michele e Robson - Todo profissional que gosta dessa área mais investigativa enfrenta ameaças e pressões. Nós fizemos uma vez uma matéria sobre uma delegada de Juiz de Fora que recebeu uma denúncia de tráfico de drogas, chamou os denunciados e mostrou o depoimento dos denunciantes. Assim, eles identificaram de onde partiu a denúncia e ameaçaram de morte a família que denunciou. A mulher, o marido e o filho pequeno tiveram que se mudar do bairro com medo de morrer. Quando o material foi ao ar, começaram as pressões por parte da Polícia Civil, inclusive com vinda de um delegado de Belo Horizonte. Nossos celulares foram grampeados e permaneceram assim por mais de uma semana. Essa informação chegou a um juiz que é nosso amigo, ele nos procurou e disse que tomaria providências. No dia seguinte, não estávamos mais no grampo.

Acesso - Como controlar a situação para que tais coisas não ocorram?
Michele e Robson -
É impossível impedir a pressão com matérias fortes, de denúncia. Ela pode vir de forma branda ou ostensiva, mas sempre vem. O importante é cumprir com a obrigação de todo jornalista e ouvir todos os lados da história. Se alguém não quiser falar, isso é informação para a matéria. Guardar todos os documentos usados na apuração do fato também é essencial para o caso de processo.

Acesso - Qual a diferença mais marcante do jornalismo investigativo pro jornalismo convencional?
Michele e Robson - O investigativo garante matérias mais elaboradas, com informações e imagens mais completas. No jornalismo convencional, do dia a dia, a gente nem sempre tem tempo para valorizar as pautas. Tempo de jornal, correria por factuais, sobrecarga na edição... Existem muitos motivos que fazem com que o jornalismo convencional seja feito com menos profundidade. Por isso, quando exibimos matérias investigativas, elas se destacam e ganham ar de reportagem especial.

Acesso - O que as pessoas podem esperar do workshop de vocês para o evento?
Michele e Robson -
Um bate papo descontraído, em que vamos buscar mais ouvir as dúvidas dos inscritos e trabalhar em cima disso. Vamos levar alguns exemplos de materiais que consideramos pertinentes para mostrar o trabalho investigativo. A partir das histórias de bastidores desses casos e do material que foi ao ar, vamos provocar um debate para ouvir opiniões e tirar dúvidas. Defendemos que o instinto investigativo deve fazer parte do cotidiano jornalístico. De uma simples matéria de reclamação de bairro pode surgir uma denúncia bombástica. Para isso, basta treinar a curiosidade e a atenção.

Entrevista por: Júlia Cavalcanti
Membro do Núcleo de Jornalismo - Acesso Comunicação Júnior



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